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Postado por Diego Ariel
Categoria: Esporte e Saúde

Esporte e Altitude: uma combinação fatal


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Alguma vez na sua vida você já esteve dentro de um avião turboélices? Mesmo não possuindo motores a jato, é indiscutível que um avião turboélices voa alto, entre 5.000 e 6.000 metros de altura, dependendo do modelo...

E que tal ficar nessa altura, só que fora do avião?

Pois é, recentemente passei por essa experiência... Escalamos o Monte Kilimanjaro, a montanha mais alta do continente africano, na Tanzânia... e enfrentamos um inimigo invisível.... a altitude...

Em 2007, a equipe do Flamengo, em partida pela Libertadores, enfrentou o Real Potosí numa altitude de cerca de 4.600m. Essa partida ficou bastante marcada por conta de muitos dos jogadores do flamengo terem passado mal durante o jogo, precisado de oxigênio para aliviar os efeitos da altitude.

Mas será que altitude é tão prejudicial assim ou foi só “migué” do flamengo?

 

Altitude

O ar é composto por aproximadamente 21% de oxigênio, 78% de nitrogênio e 1% de outros gases. O problema é que quanto mais alto, menos moléculas desses gases estão presente no ar, diminuído a pressão parcial desses gases. Ou seja, quanto mais alto, menor o número de moléculas de oxigênio, o que dificulta a oxigenação de todo o corpo.

A literatura classifica a altitude em baixa (até 1200 m), média (1300 a 2400 m), elevada (2500 a 4300 m), muito elevada (4400 a 5500 m) e em extrema [5600 a 8848 m (altura do monte Everest)].

A partir dos 2.500 metros de altitude, a oferta de oxigênio já está tão diminuída que uma terrível doença já pode acometer quem se atreva a permanecer nessa altura: O mal da montanha, também conhecido como doença das alturas ou hipobaropatia.

 

O mal da montanha

Na altitude elevada, a quantidade disponível de oxigênio para manter a agilidade mental e física diminui. Se o corpo não tiver tempo suficiente para se adaptar a essa oferta baixa de oxigênio, ocorre o mal da montanha. Para que essa adaptação ocorra, basta simplesmente permanecer na altitude, que o corpo se encarregar de promover as alterações necessárias. 

O tempo ideal para uma aclimatação estável, em média, é de 15 dias para uma altitude de 2.500m. A partir daí, cada elevação de cerca de 600 metros necessita de uma semana adicional para uma aclimatação total. Dentre as muitas estratégias que o corpo encontra para melhorar a performance na altitude, as mais importantes são aumentar o número de hemácias (glóbulos vermelhos) e aumentar a  concentração de hemoglobina (proteína existente no interior das hemácias e cuja principal função é o transporte de oxigênio). Contudo, esse “upgrade” adaptativo só dura cerca de 20 dias após retorno ao nível do mar.

Caso não seja respeitado o tempo necessário para a aclimatação, o mal da montanha pode ocorrer, comumente dentro de um período que varia de 12 até 48 horas após a exposição à altitude acima de 2500 metros. O mal da montanha não poupa nem atletas, imagine amadores (como eu). 

 

Sintomas

O sintomas iniciais são muito parecidos com um “início de gripe” ou com uma “ressaca”. Tipicamente estão presentes a dor de cabeça, o “mal estar”, cansaço, falta de apetite, náuseas , vômitos, fraqueza, tontura, sonolência, pulso rápido, inchaço (edema) nas mão, pés e no rosto, além de falta de ar aos esforços. Além disso, a desidratação, provocada pela baixa ingesta de água e pela maior perda de água pelos pulmões nessa altitude, pode contribuir com os sintomas do mal da altitude.

Se não tratado, o mal da montanha pode evoluir para sua forma grave, podendo levar à morte. Como existe pouco oxigênio e não deu tempo para que a aclimatação ocorresse, o corpo tenta algumas medidas “desesperadas”, como aumentar a velocidade que o sangue circula e aumentar o tamanho do vasos sanguíneos (vasodilatação) com o objetivo de tentar captar mais oxigênio. Entretanto, essas medidas desesperadas podem contribuir com um desfecho fatal: o edema cerebral e o edema pulmonar.

O edema pulmonar (líquido nos pulmões) apresenta sintomas semelhantes aos da bronquite, como tosse seca persistente (que pode evoluir para uma expectoração cor rosa), febre e falta de ar mesmo quando em repouso.

O edema cerebral (inchaço do cérebro) é a complicação mais temida, podendo levar ao coma ou à morte. Os principais sintomas são a dor de cabeça que não responde a analgésicos, falta de coordenação motora para andar,  perda gradual da consciência, aumento de náusea e hemorragia retiniana (olho). 

Se algum desses ocorrer, a forma mais rápida e efetiva de tratamento é descer...

 

Prevenção e tratamento

Subir lentamente é a melhor maneira de evitar o mal das montanhas. Uma estratégia bastante utilizada para acelerar a aclimatação é subir mais durante o dia e retornar a uma altitude mais baixa para passar a noite. Este processo é repetido algumas vezes, dando mais tempo e mais condições para o corpo tentar aumentar a produção de glóbulos vermelhos. Se possível, evitar bebidas alcoólicas (aumentam a desidratação) e esforços físicos.

Existem medicamentos que podem ser utilizados para a prevenção. Um dos medicamentos mais comuns é a Acetazolamida. Conhecida comercialmente por Diamox, a acetazolamida é um diurético (substância que aumenta o volume urinário, semelhante ao efeito da cerveja) que é tipicamente encontrada em comprimidos de 250mg, destinado ao tratamento de edema (acúmulo anormal de líquido). Em escaladas, comumente é utilizado a estratégia de tomar meio comprimido por dia (125mg) e um inteiro no dia do “ataque” ao cume (para descer já não é mais necessário). 

Na região dos Andes, principalmente no Equador, Peru e Bolívia, um remédio popular é um chá feito a partir da planta de coca.

 

 

Nos casos mais graves, algumas medidas podem ser adotadas, como o uso de oxigênio suplementar, câmara hiperbárica e corticosteroides injetáveis.

Contudo, mais uma vez lembramos: o único tratamento confiável e em muitos casos a única opção disponível é descer !!!!! Evitemos os heroísmos e as teimosias... podem ser fatais...

 

Ou seja...

Não foi “conversa fiada” do Flamengo lá em Potosí.... O mal é real... maltrata.. e pode até matar...

Confira aqui o Marcos André Batista Santos, mais conhecido como Vampeta, contando como é jogar em maior altitude.

 

Mas, com os cuidados adequados, vale apena ver o mundo lá de cima... recomendo...

 

Para mais informações navegue em nosso Blog, entre em Contato ou converse com seu Ortopedista. 

 


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Comentários

  • Lana

    Feito dentro dos parâmetros de segurança e com empresas idôneas e responsáveis , o trekking em altitude é um esporte maravilhoso: natureza, vida saudável , amizades, nuvens, silêncios . Muda a vida

    • Dr. Diego Ariel

      Esse é o objetivo do esporte: mudar vidas :)