A Instabilidade Patelofemoral é uma condição que acomete o joelho, mais precisamente na articulação entre o fêmur e a patela (rótula). Neste problema, a patela não se articula normalmente com o fêmur, podendo até mesmo “desencaixar”. Esse desencaixe é conhecido como luxação da patela.
Com o movimento do joelho, a patela desliza em um “trilho” no fêmur, o sulco troclear, formando a articulação patelofemoral. Além do formato da patela e do trilho do fêmur, o joelho conta ainda com outros estabilizadores para impedir que a instabilidade ocorra. Entre tais estabilizadores, destacamos o músculo Vasto Medial Oblíquo, a altura patelar e a tensão da capsula medial e do ligamento Patelofemoral Medial.
Qual a causa da Instabilidade Patelofemoral? Diversos fatores anatômicos explicam a biomecânica das instabilidades patelares. Destes, destacamos 4 principais:
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Displasia Troclear: nessa situação, ocorre alguma alteração no “trilho” da patela;
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Aumento do TAGT (geralmente quando maior que 20mm): o TAGT é uma medida realizada pela tomografia. O TAGT é a expressão radiográfica do ângulo do quadríceps (ângulo Q). Quando maior o TAGT, mais fácil de a patela luxar;
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Inclinação Patelar: quanto mais a patela estiver inclinada, mais fácil de ela se deslocar “para fora” do fêmur;
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Patela Alta: nessa situação a patela está mais alta de que nos joelhos normais.
Além das alterações anatômicas, as lesões que ocorrem na prática esportiva podem levar à luxação da patela, principalmente no entorse do joelho. Quando o entorse ocorre, pode haver a ruptura do Ligamento Patelofemoral Medial, o principal estabilizador medial da patela. Com a lesão do Ligamento Patelofemoral, o joelho fica mais propenso a novos episódios de luxação, principalmente em situações de rotação do joelho, que geralmente ocorrem na prática esportiva.
Quem tem maior risco de Instabilidade Patelofemoral? Mais frequente em adolescentes e adultos jovens (entre 10-18 anos), meninas (cerca de 75% dos casos) e em pessoas que têm algum parente próximo com essa doença.
Quais os sintomas? Existem duas formas de instabilidades: a luxação traumática da patela e a instabilidade crônica. Na luxação traumática, a patela “sai fora” durante algum esforço ou atividade física. Nessa situação, o paciente chega ao pronto-socorro com muita dor e edema (inchaço), podendo, muitas vezes, apresentar hemartrose (sangue dentro do joelho). Em muitos casos, a patela volta “sozinha” para seu local normal no fêmur. Às vezes, o médico precisa colocar a patela “de volta”, numa manobra chamada de “redução”. Desses pacientes, cerca de 33% vão ter recidiva (vão ter novamente a luxação). Na instabilidade crônica, além dos sintomas que ocorrem quando a patela luxa (dor, edema e hemartrose), o paciente apresenta uma sensação contínua de insegurança do joelho. Ou seja, mesmo em atividades do dia a dia, os pacientes sempre ficam apreensivos, com a impressão de que, a qualquer momento, a patela vai “sair do lugar”.
Como é feito o diagnóstico? Além da história clínica e do exame físico, a utilização de alguns exames de imagens auxilia no diagnóstico e no planejamento da conduta terapêutica. A radiografia (RX) é um exame muito acessível e utilizado para avaliar o formato da tróclea, a altura e a inclinação da patela. A tomografia é muito útil para uma melhor avaliação da tróclea e da inclinação patelar, além de ser o exame fundamental para a medida do TAGT. Já a ressonância ajuda na suspeita de lesões de partes moles, como na lesão do Ligamento Patelofemoral Medial.
Como é feito o Tratamento? Não existe um tratamento padrão para a Instabilidade Patelofemoral. O tratamento é individualizado de paciente para paciente, de acordo com as características pessoais (idade, nível de atividade, profissão etc) e com as alterações anatômicas (patela alta, displasia troclear e lesão do ligamento patelofemoral).
Caso o paciente se apresente com a patela luxada, a primeira conduta tomada é a redução. Através de manobras, o médico coloca a patela de volta ao seu “trilho no fêmur” e depois planeja o tratamento definitivo.
O tratamento é dividido em duas formas: tratamento Conservador (sem cirurgia) e tratamento Cirúrgico.
Como é feito o Tratamento Conservador? Inicialmente, o tratamento é conservador. Apresenta bons resultados em muitos casos. O tratamento conservador utiliza medidas como fisioterapia, fortalecimento (principalmente adutores e quadríceps) e flexibilidade muscular, além de trabalho de propriocepção. O uso de órtese patelar pode ajudar em certos casos. O tratamento conservador é bem indicado nos casos em que ocorreu apenas um episódio de luxação. Caso nesse primeiro episódio ocorra uma fratura osteocondral associada, dá-se preferência ao tratamento cirúrgico.
Nas luxações crônicas (mais de 1 episódio), pode-se tentar o tratamento conservador nos pacientes muito jovens ou nos pacientes mais velhos e com baixa demanda funcional.
Como é feito o Tratamento Cirúrgico? Na falha do tratamento conservador, nas luxações crônicas e nos pacientes jovens e ativos, a cirurgia é bem indicada. O procedimento vai depender muito da causa da instabilidade. Existem muitas técnicas cirúrgicas que podem ser utilizadas, inclusive combinadas. Dentre as opções, podemos citar:
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Reconstrução do Ligamento Patelofemoral Medial: como dito acima, esse ligamento é uma dos principais estabilizadores mediais da patela. Nessa cirurgia, é retirado um enxerto (geralmente um tendão flexor) e utilizado para reconstruir o Patelofemoral, fixando o enxerto na patela e no fêmur;
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Transferências da tuberosidade tibial: O objetivo é reduzir a TAGT anormal (acima de 20 mm) para cerca de 10 e 15 mm. Uma osteotomia (corte no osso) é feita na tuberosidade da tíbia (local onde o ligamento patelar se insere) e essa tuberosidade é reposicionada e fixada na tíbia, geralmente com uso de parafusos.
Em quanto tempo retorno às minhas atividades? O retorno vai depender muito da gravidade da instabilidade do paciente. Quando ocorre uma primeira luxação e o tratamento conservador é indicado, é realizada uma imobilização do joelho por cerca de 4 semanas, seguida de reabilitação e retorno às atividades mais “pesadas” em torno de 4 a 6 meses. Logo após a cirurgia, o paciente já inicia a reabilitação fisioterápica. Quanto mais rápido o paciente recuperar a força e o controle muscular, assim como a amplitude de movimento, mais rápido ocorre o retorno às suas atividades. Geralmente, o paciente utiliza muleta por 5 semanas, seguindo na reabilitação. Em média (alguns pacientes demoram mais), a corrida é possível em 3 meses e o retorno aos esportes, em 5 a 6 meses.
Dr. Diego Ariel
Ola Liobina
Seu filho deve ter alguma frouxidão ligamentar. É necessário ser avaliado por um especialista em joelho para que seja tratado adequadamente.